Esta história podia ter começado a ser contada há 6 anos atrás, mas nos últimos 6 anos não tive coragem de arriscar nesta maravilhosa aventura que é ser monitor na “Casa Amarela”. Nesta altura, e como diz a música, o espírito era mais ou menos este:
“Podes achar que não tens
P’ra onde ir, nem que fazer
Não sabes bem quem és aqui
Neste mundo, tão grande e frio
Mas há qualquer coisa em ti
Que te faz querer
Querer ser alguém
Querer ser alguém
E a vida não vai parar
Vai como o vento
Tens tudo a dar
Não percas tempo
Podes saber
Que vais chegar
Onde Deus te levar
Mas pode ser tão difícil
De acreditar, em Deus assim
Será que Deus se vai lembrar
De me ajudar
Será que sim
Mas há qualquer coisa em mim
Que me faz querer: acreditar
Acreditar!”
Desde então muito se passou e 2017 foi o ano, T1 foi o turno, para me chegar à frente dando o passo que faltava – acreditar e arriscar!
Monitora pela primeira vez levava na bagagem alguns medos. Medo de não me sentir integrada, medo de não estar à altura do que me era proposto, medo de não cumprir com tudo o que era pedido ou simplesmente de não ser capaz de ajudar a proporcionar umas férias felizes às crianças que iriamos receber neste período…
Apesar de todos estes medos, interessante foi ser surpreendida, percebendo no dia-a-dia da “Casa Amarela”, desta vez chamada “Abrigopólis”, como tudo se conjugou para que nenhum destes medos se concretizasse e o resultado final fosse atingido… O despertar sempre com alegria, a disciplina com um olhar compreensivo e um sorriso tolerante dos monitores quando era preciso transmitir os princípios e as regras da colónia, os sabores inconfundíveis das refeições, um abraço de conforto quando as saudades apertam, a aceitação, partilha, entreajuda e brincadeira entre monitores, o cheiro e a magia do serão, as partidas aos monitores, os cânticos, as vozes das crianças a ecoar por onde passam, os seus sorrisos e olhares que estão sempre em alta definição… tudo isto e muito mais, que não se consegue explicar por palavras!
Não há caminhos certos ou receitas para chegar às crianças, sendo precisamente esse o desafio. Acabei por escolher a empatia, escuta ativa, ingenuidade e a brincadeira e dei por mim a tirar o pó da criança que há em mim, vivendo o momento, entregando-me a este lugar especial e às pessoas que dele fizeram parte e sem as quais nada disto faria sentido! Por isto, aproveito para deixar um agradecimento enorme a todos os que partilharam esta experiência comigo, crianças, coordenadores, monitores, porque “juntos somos mais fortes”!!! 😀 Não poderia ainda esquecer as “donas da cozinha”, porque sem a vossa dedicação, animação e amor esta casa não era a mesma coisa!
Trouxe muito de todos vocês comigo, a vossa presença ainda se faz sentir, OBRIGADA!
Acredito que o sentido da vida, seja fazer sentido a outras vidas, assim como acredito no poder das pequenas coisas, talvez por isso, tenha encontrado tanto significado e valor nesta colónia de férias que é única. A bagagem inicialmente cheia de receios vem agora cheia de afetos, brincadeira, sorrisos, aprendizagens e felicidade. Sensação de dever cumprido!!!
Agora, ao olhar para trás, para o momento em que estava prestes a entrar na “Casa Amarela” diria: “vai correr tudo bem, estás no caminho certo”. Hoje posso dizer que voltava a fazer tudo de novo, sair da minha zona de conforto, que neste caso significou ir para um local onde não conhecia ninguém, descobrindo limites e capacidades, superando desafios que nem sabia que era capaz. Ninguém consegue ficar indiferente à passagem por esta casa e, confesso que ficou a vontade de me “fazer sentir” novamente um dia…
Por fim, para vocês que estão a ler o que escrevi, tenho uma palavra – arrisquem, vão ver que não se vão arrepender, tenho a certeza!